Uma Nova História na Prevenção da Pré-eclâmpsia: O Papel do Cálcio na Gestação e o Compromisso com a Vida

Quando pensamos em gestação, geralmente vem à mente aquela imagem de uma mãe acariciando a barriga, sentindo os primeiros movimentos de seu bebê, sonhando com um futuro próspero e feliz. Porém, há uma realidade que, por muito tempo, ficou à margem dos debates públicos: a pré-eclâmpsia, uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil.
Em muitos lares, a história se desenrola de forma dramática, como no caso recente em que a cantora Lexa expôs a perda de sua filha para a pré-eclâmpsia, episódio que ganhou repercussão nacional e abriu espaço para um tema pouco debatido: a urgência da prevenção dessa grave condição na gestação.
Nesse cenário, o Ministério da Saúde deu um passo fundamental para reescrever essa história: com base na Nota Técnica Conjunta nº 251/2024, Ministério da Saúde, foi oficializada a adoção universal de cálcio para todas as gestantes atendidas pelo SUS, a partir da 12ª semana de gestação até o parto. E por que essa decisão pode mudar o final de tantas histórias? Estudos mostram que a ingestão diária de cálcio reduz em até 55% o risco de pré-eclâmpsia, contribuindo para um pré-natal mais seguro e protegendo vidas tanto de mães quanto de bebês.
Por que falar sobre pré-eclâmpsia agora?
A pré-eclâmpsia não é novidade na literatura médica. Envolve o aumento da pressão arterial após a 20ª semana de gestação, podendo acarretar complicações graves para mãe e bebê, como partos prematuros ou até mesmo óbitos maternos e neonatais. O que a torna ainda mais urgente é o fato de ser uma condição largamente prevenível. No entanto, no Brasil ainda ocorrem situações que dificultam a prevenção: a subnotificação de casos, o diagnóstico tardio e o acesso limitado a recursos de saúde constituem algumas das barreiras que vêm sendo enfrentadas no âmbito do SUS.
Embora existam histórias recentes que ganharam destaque na mídia, o objetivo maior deste artigo é evidenciar a importância de uma medida concreta e em escala nacional: a adoção universal de cálcio. Ela se consolida como uma estratégia de saúde pública extremamente relevante para todas as mulheres gestantes, em especial para aquelas com menor acesso a uma alimentação e cuidados pré-natais adequados.
A força do Cálcio no Pré-natal
Você pode estar se perguntando: por que o cálcio faz tanta diferença?
- Estudos demonstram que a ingestão adequada de cálcio reduz em até 55% o risco de pré-eclâmpsia.
- No Brasil, mais de 96% das mulheres adultas ingerem menos cálcio do que o recomendado, segundo pesquisas de orçamentos familiares.
- Dois comprimidos diários de carbonato de cálcio, com 1.250 mg cada, são equivalentes a 1.000 mg de cálcio elementar. Essa dose constitui a nova diretriz nacional para todas as gestantes (Nota Técnica Conjunta nº 251/2024, Ministério da Saúde).
Vale lembrar que a pré-eclâmpsia é multifatorial, mas tem na falta de cálcio um importante fator de risco que pode ser corrigido. Não se trata de um detalhe, e sim de um pilar para a redução de complicações na gravidez.
Nota Técnica 251/2024 e o que muda na prática
A publicação recente da Nota Técnica Conjunta nº 251/2024, Ministério da Saúde, oficializa a recomendação de que, desde a 12ª semana de gestação até o parto, toda mulher tenha acesso ao cálcio na rede pública. Essa decisão torna obrigatório o que antes era orientado de forma mais pontual, a depender da conduta individual do médico, especialmente para gestantes com alto risco de distúrbios hipertensivos.
Principais pontos da medida:
- Público-alvo: todas as gestantes atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS).
- Dosagem: dois comprimidos diários de carbonato de cálcio, de 1.250 mg cada, do início da 12ª semana de gestação até o nascimento do bebê.
- Intervalo com outros medicamentos ou alimentos: deve-se respeitar duas horas de diferença entre o cálcio e medicamentos à base de ferro ou refeições ricas em ferro, evitando competições na absorção.
Rede Alyne: a importância do olhar social
O fortalecimento desse protocolo alinha-se às iniciativas da Rede Alyne, criada para reduzir a mortalidade materna e infantil no país, com ênfase na população negra e indígena, historicamente a mais afetada por problemas de acesso e qualidade do cuidado. Assim, a ingestão do cálcio não se resume a mais um comprimido na rotina pré-natal, mas a uma ação que exemplifica equidade e justiça social em saúde.
Por quê? Porque as maiores lacunas na ingestão de cálcio costumam ocorrer onde há mais vulnerabilidade econômica, educacional e sanitária. E é exatamente nesses cenários que a pré-eclâmpsia se manifesta de forma mais severa, agravando iniquidades já existentes. Ao centralizar a prevenção e, sobretudo, ao viabilizar o acesso universal ao medicamento, a Rede Alyne expande a capacidade do SUS de alcançar quem mais precisa.
Um investimento que salva vidas
Grande parte dos episódios de pré-eclâmpsia pode ser evitada com intervenções simples e custo efetivas, como o acompanhamento pré-natal, orientações nutricionais e o fornecimento de nutrientes essenciais. Não à toa, a política de ampliação da utilização de medicamentos à base de ferro e ácido fólico — já estabelecida no Brasil desde 2005 — vem se mostrando eficaz na redução da anemia gestacional. Agora, é a vez de o cálcio tornar-se protagonista nesse mesmo palco de prevenção.
As empresas fornecedoras de carbonato de cálcio, como a Nunesfarma Nesh, que tem em seu portfólio o medicamento carbonato de cálcio — atualmente a única opção com registro ativo na Anvisa —, têm a oportunidade de unir o compromisso ético com a missão de produzir e distribuir medicamentos que atendam às normativas e aos padrões de qualidade do Ministério da Saúde. Mais do que uma possibilidade de atuação, é um chamado para contribuir diretamente na preservação de vidas maternas, reforçando o Componente Básico de Assistência Farmacêutica (Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos — Ministério da Saúde).
Esperança em meio aos desafios
A tragédia vivida pela cantora Lexa é um dos relatos mais conhecidos sobre complicações decorrentes de hipertensão na gestação. Entretanto, tantas outras histórias não chegam aos jornais, permanecendo restritas a lares em luto e comunidades que clamam por melhorias no sistema de saúde.
Se o luto de algumas famílias serviu de alerta à sociedade para a gravidade do tema, a boa notícia é que a implementação de uma estratégia de adoção universal de cálcio possibilita prevenir e minimizar inúmeros casos de pré-eclâmpsia. A iniciativa ressalta o compromisso do SUS com a vida de milhares de mulheres que confiam diariamente na rede pública para levar uma gestação segura e saudável até o fim.
Um salto para o futuro da saúde materna
A adoção universal de cálcio na gravidez inaugura um novo capítulo na história do pré-natal brasileiro. Mais do que uma medida pontual, ela lança as bases de um cuidado integral, equitativo e cientificamente embasado, que coloca a proteção da vida materna e neonatal em primeiro plano.
- Redução de mortes evitáveis: o maior objetivo é reduzir drasticamente a incidência de pré-eclâmpsia e suas complicações, salvando mães e bebês.
- Equidade: ao focalizar especialmente as populações mais vulneráveis, assegura-se que a prevenção e o tratamento alcancem quem mais precisa.
- Responsabilidade compartilhada: profissionais de saúde, setor farmacêutico e gestantes são protagonistas nessa revolução do pré-natal.
Assim, o Brasil dá um passo definitivo rumo a uma maternidade mais protegida, colocando no horizonte uma perspectiva de esperança e de resultados concretos na redução da mortalidade. Às futuras mães — que carregam em seus ventres novas gerações — fica a certeza de que a busca por cuidados mais completos e acessíveis não é apenas uma política de governo, mas uma verdadeira política de vida.
Referências
- Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos — Ministério da Saúde
- Nota Técnica Conjunta nº 251/2024, Ministério da Saúde
- Documentos e apresentações oficiais sobre a Rede Alyne